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domingo, 16 de setembro de 2012

O HERÓI INVISÍVEL

MODIFICA PUBLICAÇÃO DO FACEBOOK EM 03 DE JULHO DE 2011.


A VERDADEIRA HISTÓRIA DE "DOM QUIXOTE DE LA MANCHA" NA INTERPRETAÇÃO DE UM HERÓI E IDEALISTA DA HUMANIDADE.
Retirem as vendas dos olhos, acordem a Mente Adormecida e explorem o infinito...
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)

"Ás" de Espadas fora do baralho. Grandes negócios, pequeno empresário. Muito prazer me chamam de otário. Por amor às causas perdidas." (Dom Quixote, Engenheiros do Hawaii)
Ingênuo, velho, andante e sonhador, Dom Quixote se identifica genuinamente com um mundo de ilusões até que seja esgotada todas as suas forças. Busca um ideal que para muitos é apenas loucura, delírio e ilusão. Quer afirmar nas palavras de José Ingenieros em sua obra “ O HOMEM MEDÍOCRE” que:


quando colocamos a proa visionária na direção de uma estrela qualquer e nos voltamos às magnitudes inalcansáveis, no afâ de perfeição e rebeldes à mediocridade, levamos dentro de nós, nesta viagem, a força misteriosa de um ideal. É um fogo sagrado capaz de nos levar a grandes ações. Se tal força morrer dentro de nós, ficaremos simplesmente inertes; não passamos, neste caso, da mais gelada bazófila humana. Na verdade, apenas vivemos por causa desta partícula de sonho que colocamos sobre o real. Ela é, com propriedade, a flor-de-lis de nosso brasão, o penacho de nosso temperamento. Inumeráveis signos a revelam:

aperta-nos a garganta quando nos recordamos da CICUTA imposta a Sócrates, da cruz erguida por CRISTO e da fogueira acesa a GIORDANO BRUNO; abstraímo-nos no infinito quando lemos o diálogo de PLATÃO, um ensaio de Montaigne ou um discurso de HELVÉCIO; quando nosso coração estremece pensando na desigual fortuna destas paixões, nas quais fomos, alternadamente, o Romeu de tal Julieta e o Werther de tal Carlota; quando nossos sentidos gelam de emoção ao declamarmos uma estrofe de Musset, que surpreendentemente rima de acordo com nosso sentir; quando, finalmente, admiramos a mente preclara dos gênios, a sublime virtude dos santos, a magna façanha dos heróis, inclinamo-nos com igual veneração diante dos criadores da VERDADE E DA BELEZA. Nem todos, é preciso que se diga, extasiam-se diante de um crepúsculo, sonham frente à aurora ou se arrepiam na eminência de uma tempestade. Nem tampouco gostam de passear com Dante, rir com Moliére, tremer com Shakespeare ou assombrar com Wagner; nem mesmo emudecem diante de David, da Ceia ou do Paternón. É PARA POUCOS ESSA INQUIETUDE DE PERSEGUIR AVIDAMENTE ALGUMA QUIMERA, venerando filósofos, artistas e pensadores que fundiram em síntese supremas suas visões do SER e da ETERNIDADE, voando para além do REAL. OS SERES DESTA ESTIRPE, CUJA IMAGINAÇÃO É POVOADA DE IDEAIS E CUJO SENTIMENTO POLARIZA EM DIREÇÃO A ELES TODA A PERSONALIDADE, FORMAM UMA RAÇA DISTINTA DENTRO DA HUMANIDADE: SÃO IDEALISTAS. (INGENIEROS,2006)(grifos e destaques nossos)

Numa visão mais realista,[ DULCE--?]não é nenhuma amada e nem amiga de DOM QUIXOTE. Ela é uma DEUSA, ou seja, vem representar a tão sonhada e desejada DEUSA DA JUSTIÇA QUE JULGA A CADA PESSOA DE ACORDO COM SEU MÉRITO COM PRUDÊNCIA, ORDEM, REGRA E COM AQUILO QUE A CONSCIÊNCIA E A RAZÃO DITAM COM EQUIDADE, EQUILIBRIO E JUSTEZA DAS DECISÕES NA APLICAÇÃO DA LEI, porém, de olhos vendados não por imparcialidade, mas por ilegalidade e injustiças, que [?- -NÉIA], um ser espiritualmente INFERIOR, distribuidora de farinha de trigo, perversa, e de tanta incompetência, levaria OS SETES PECADOS CAPITAIS ser insuficiente para defini-la. Por isso a idéia de um nome feminino para SIMBOLIZAR A JUSTIÇA.  Portanto, Néia com o auxílio de mais três mulheres: Lua, Mar e Rocha, as duas primeiras residentes de um mesmo bairro, em conluio com um operador do mundo invisível, e assim por diante, formam uma organização criminosa internacional e que evolui rapidamente a cada dia, atraindo incontáveis inimigos que desejam derrotar DOM QUIXOTE.
NÉIA, representando todos os maiores inimigos de DULCE, e que por demasiada injustiça e crueldade, planejou, premeditou, difamou, injuriou, caluniou e ameaçou o velho e o bom DOM QUIXOTE.
Deste contraste, DOM QUIXOTE segue por caminhos árduos na tentativa de encontrar DULCE – A DEUSA DA JUSTIÇA – e que por sua natureza são caminhos convergentes.

As formas infinitas do ideal são complementárias: jamais contraditórios, ainda que assim o pareça. Se o ideal da ciência é a verdade, da moral o Bem e da arte a Beleza, formas preeminentes de toda excelência, não se concebe que se possam ser antagonistas.” Cada época tem certos ideais que pressentem melhor o porvir, entrevistos por poucos, seguidos pelo povo ou afogados por sua indiferença, ora orientá-lo como pólos magnéticos, ora a quedar latentes até encontrar a glória em momentos de clima propício. E outros ideais morrem, porque são crenças falsas: ilusões que o homem forja sobre si mesmo ou quimeras verbais que os ignorantes perseguem dando golpes na sombra. Sem ideiais seria inexplicável a evolução humana. Eles existiram e sempre existirão. Palpitam por detrás de todo esforço magnífico realizado por um homem ou um povo. São faróis sucessivos na evolução mental dos indivíduos e das raças.(INGENIEROS,2006)


CONTINUA INGENIEROS: “FRENTE A ESTES HERALDOS, EM CADA PEREGRINAÇÃO HUMANA, ADVERTE-SE UMA FORÇA QUE OBSTRUI TODOS OS SENDEIROS: A MEDIOCRIDADE, QUE É UMA INCAPACIDADE DE IDEAIS.”

Assim concebido, transformam-se em obstáculos e seus oponentes invertem toda a verdade como se fossem, apenas, uma manifestação de loucura ou de uma busca inútil sem fins e sem resultados. ENGANAM-SE TOTALMENTE, pois, nenhum herói usufrui de sua luta, mas conscientemente percorrem por esses caminhos para que uma trilha seja formada AO ALCANCE de um BEM JURÍDICO futuro.
“A excessiva prudência dos medíocres pretende paralisar, sempre, as iniciativas mais fecundas”. Humilham, Dominam, Oprimem. No caso concreto, DOM QUIXOTE mostra este lado FIGURATIVO DA LINGUAGEM quando ele vê o MOINHO DE VENTO como um INIMIGO que ele desafia e tenta atingir, sendo implacavelmente lançado a distância.
O MOINHO como peça essencial da história, representa, além de seu significado semântico, o gigantesco obstáculo que todo herói, gênios, filósofos, justiceiros e representantes dos DIREITOS HUMANOS, DAS CAUSAS PERDIDAS, DA VERDADE E DA JUSTIÇA enfrentam. Dificuldades que os separa da potência de seus inimigos ocultos frente a impotência de sua fragilidade humana de reagir com a mesma crueldade e deliberação.


A psicologia dos homens medíocres caracteriza-se por um traço comum: a incapacidade de conceber uma perfeição, de formar um ideal. São incapazes de virtude; não a concebem ou ela lhes exige demasiado esforço. Nenhum afã de santidade encrespa o sangue em seu coração; muitas vezes não cometem crimes por covardia diante do remorso. Não vivem sua vida para si mesmos, senão para o fantasma que projetam na opinião de seus semelhantes. Carecem de linha; sua personalidade se borra como um traço de carvão sob o esfuminho, até desaparecer. Tocam sua honra por uma prebenda e trancam à chave a sua dignidade para evitar um perigo; renunciariam a viver antes de gritar a verdade frente ao erro de muitos. Seu cérebro e seu coração estão entorpecidos por igual, como pólos de ímã gasto. Quando se juntam, são perigosos. A força dos números supre a debilidade individual: juntam-se aos milhares para oprimir quantos desdenham encadear sua mente com os grilhões da rotina.(grifos nossos – (INGENIEROS,2006)
Outro ponto figurativo é quando DOM QUIXOTE liberta os PRISIONEIROS. Pergunta-se: São eles na figura de linguagem CRIMINOSOS ou INOCENTES apenados pela MÁQUINA ASSASSINA?
Para dar a resposta seria preciso ler o livro por completo, mas com toda ousadia é preciso afirmar que se trata de uma METÁFORA que traduz a idéia de que os verdadeiros culpados, assassinos e corruptos estão LIVRES, enquanto, os inocentes encarcerados aos números, pagando por um crime que não cometeram.
Importante ressaltar ainda, a ARMADURA ENFERRUJADA E O CAMINHO TRILHADO, usados por DOM QUIXOTE PARA REPRESENTAR O TOTAL DESCASO NA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS, também a FALTA DE SEGURANÇA COLETIVA E INDIVIDUAIS. Mais uma vez, nas palavras de Ingenieros, concluímos:


Providos dos gens de nossos antepassados, recebemos durante a infância e a adolescência, uma miríade de normas sociais; deveriam elas, por princípio, aprimorar-nos para uma vida superior. Elas o fazem; mas por caminhos escusos. Pois representam, de acordo com o simbolismo várias vezes empregado por Nietzsche, toda a carga depositada sobre a corcova do pobre camelo, que a carrega a cada dia em maior número, com maior pesar, indiferente aos olhos do seu dono. Acontece-nos carregar a carga até o dia em que, por qualquer destas indefectáveis forças misteriosas, internas ou externas, nos vemos obrigados a tomar o caminho que não é de ninguém. Deixamos o hábito, a rotina, e seguimos esse algo extasiados, envoltos no odor agradável de uma sonhada liberdade de ser. Ocorre que ainda somos camelos e temos sobre as costas um peso que nos fatiga e não nos permite o mergulho pleno nesta liberdade. Então, conforme Nietzsche, topamos pela frente com um tremendo dragão verde, soltando bolas de fogo pelas vossas narinas, que nos sacode de nós mesmos num grande e largo susto; este é o momento crítico, pois, não há volta: temos que enfrentar, na nossa condição de camelo, o feroz dragão que nos impede, sem qualquer escrúpulo, de prosseguirmos no nosso caminho. (INGENIEROS,2006)
Concluindo, de acordo com a nossa contemporaneidade, O VELHO DOM QUIXOTE, desdentado, fraco, doente e fracassado, representa: 

por deformação da tendência egoísta, que alguns homens estão naturalmente a invejar aos que possuem tal superioridade por eles desejada em vão; a inveja é maior quando mais impossível se considera a aquisição do bem cobiçado. É o reverso da emulação; esta é uma força propulsora e fecunda, sendo aquela rêmora que trava e esteriliza os esforços dos invejosos. O talento, a beleza, a energia, quiseram ver-se refletidos em todas as coisas e intensificados em projeções inúmeras; a estultícia, a fealdade e a impotência sofrem tanto ou mais pelo bem alheio que pela própria desdita. Por isso toda superioridade é admirativa e todas subjacência é invejosa. Admirar é sentir-se crescer na emulação com OS MAIORES.” (INGENIEROS,2006)
DE LA MANCHA: TIREM SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES. O NOME DIZ TUDO. 
Portanto, a nova era de DOM QUIXOTE não reflete a renúncia, a transação e nem a desistência, mas, A RESISTÊNCIA. Sem se importar se todo o seu esforço ao invés de lhe proporcionar honras lhe trouxe a miséria, a fome e a opressão, continuará a lutar com dignidade. Sua morte não será por debilitação física, a menos que induzida, mas, por forças vulgares que covardemente lhe praticam o crime de homicídio.

Carla Luciene

Referências: INGENIEROS, José. O homem medíocre; tradução: Lycurgo de Castro santos; São Paulo: Ícone, 2006.

NOTA:
[1] DULCE com letra "e", faz referência a personagem  "Dulcinéia" de Dom Quixote de La Mancha abrangendo outros pormenores não relacionados com a obra literária. "Pedi-lhe que ma decifrasse, e ele, sem interromper o riso continuou:  - o que se lê aqui nessa margem, ao pé da letra, é o seguinte: Esta Dulcinéia del Toboso, tantas vezes mencionada na presente crônica, dizem que para a salga dos porcos era a primeira mão de toda a Mancha."

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