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sábado, 28 de setembro de 2013

MOSCAS CONTENTES E VERMES FEDENTES


Nesta manhã... pude ver o caminhar de quem não sabe andar.
Para agradar Dom Ratão a moscaria seguia a rua principal do lixão. Cantarolavam como prece a espera de um milhão:

"Não fique triste que esse mundo é todo teu. Tu és muito  mais bonita que a camélia que morreu"
"Mamãe eu quero mamar!

_Aí bate o ponto _ respondeu Dom Quixote _ aí é que está o fino do meu merecedor caso; ensandecer um cavaleiro andante com causa não é para admirar nem agradecer: o merecimento está em destemperar sem motivo, e dar a entender à minha dama que se em seco faço tanto, em molhado o que não faria? Quanto mais, que razão não me falta com larga ausência que tenho feito da sempre senhora minha Dulcinéia del Toboso! (...)´Quem está ausente, não há mal que não tenha e que não tema´. Portanto, sancho amigo, não gastes tempo em me aconselhar que deixe tão rara, tão feliz e tão nunca vista imitação. 
Louco sou, e louco hei de ser até que me tornes com a resposta de uma carta que por ti quero enviar à minha senhora Dulcinéia; e se ela vier tal como lho merece a minha lealdade, acabar-se-ão a minha sandice e a minha penitência; e se for ao contrário, confirma-me-ei louco deveras, e assim não sentirei nada. Portanto, de qualquer maneira que ela responda, sairei do trabalhoso passo em que me houveres deixado, gozando ajuizado do bem que me trouxeres, ou, se me trouxeres mal, deixando por louco de o sentir. Mas dize-me cá, Sancho, trazes bem guardado o elmo de mambrino? Que eu bem vi que o levantaste do chão quando aquele desagradecido o quis espedaçar, mas não pôde, prova de fineza da sua têmpera.
(...) olha, Sancho, (...) tens o mais curto entendimento que nunca teve, nem tem, escudeiro do mundo. Pois, é possível que andando comigo há tanto tempo, ainda não tenhas reconhecido que todas as coisas dos cavaleiros andantes parecem quimeras, tolices e desatinos, e são ao contrário realidades? E donde vem este desconcerto? Vem de andar sempre entre nós outros uma caterva de encantadores, que todas as nossas coisas invertem, e as transformam, segundo o seu gosto e a vontade que têm de nos favorecer ou destruir-nos. Ora aí está como isso, que a ti te parece bacia de barbeiro, é para mim elmo de Mambrino, e a outros se figurará outra coisa, e foi rara providência do sábio que me favorece fazer que pareça bacia o que real e verdadeiramente é elmo de mambrino; e a causa vem a ser; porque, sendo ele traste de tanto apreço, todo o mundo se o conhecesse, me perseguiria para mo tirar; como porém entendem que não passa de bacia de barbeiro, não fazem caso de se matar por ele, como bem mostrou por sua parte o que diligenciou quebrá-lo, e o deixou no chão em vez de o levar; conhecera-o ele, e veríamos se o deixava assim. 
(...) _ Já tenho dito, e por muitas vezes, Sancho _disse Dom Quixote _ que és um grande falador; e, ainda que de bestunto roceiro, muitas vezes frisas em sutil; contudo, para te convencer de quão rombo és tu, e eu discreto, quero que me ouças um breve conto. (...) Assim, Sancho, para o que eu quero a Dulcinéia del Toboso tanto vale a ela como a mais alta princesa do mundo. Olha que nem todos os poetas que louvam damas debaixo de um nome que eles arbitrariamente lhes põem as têm na realidade. Pensas tu que as Amarilis, as Filis, as Silvias, as Dianas, as Galatéias, e outras queijandas de que andam cheio os livros, os romances, as lojas de barbeiros, os teatros das comédias, foram realmente damas de carne e osso, e pertencem aqueles que as celebram  e celebraram? Decerto que não. As mais belas inventaram-nas eles para assunto dos seus versos, e para que os tenham enamorados, e homens de valia para o serem. Segundo isso, baste-me a mim pensar e crer que a boa da Aldonça Lourenço é formosa e honesta. Lá a sua linhagem importa pouco; não hão de ir tirar-lhe as inquirições para dar-lhe a algum hábito; para mim faço de conta que é a mais alta princesa do mundo. Porque hás de saber, Sancho, se o não sabes, que há duas coisas só que que mais que todas as outras incitam a amar; são a formusura e boa fama; e ambas estas coisas são em Dulcinéia extremadas, porque em lindeza nenhuma a iguala, e em boa nomeada poucas lhe chegam; e, para acabar com isto, imagino eu que tudo que te digo é assim, sem um til de mais nem de menos; pinto-a na fantasia como a desejo assim nas graças como no respeito; nem Helena lhe deita águas ás mãos, nem Lucrécia, nem outra alguma das famigeradas mulheres das idades pretéritas, grega, bárbara ou latina; digam o que quiserem; se por isto me repreenderem os ignorantes, não me condenarão os justiceiros.

Ditosos e felicíssimos tempos, em que ao mundo veio o tão audaz cavaleiro Dom Quixote de la Mancha pela sua mui honrada determinação de restituir ao mundo a já quase esquecida ordem da cavalaria andante! Saboreamos nós agora, nesta idade tão falta de passatempos alegres, a doçura de estarmos lendo a sua verdadeira história e os contos que nela se travam como episódios; estes em boa parte não são menos agradáveis, artificiosos e  verdadeiros que a história mesma.
_ (...) Ai, desditosa! quão mais agradável companhia não farão estas penhas e moitas ao meu sentimento, pois me proporcionarão comunicar estas queixas com o céu, e não a criaturas humanas! Na terra já não há com quem se possa tomar conselho nas incertezas,alívio nos queixumes, nem remédio na desgraça.
(...) Talvez que a minha pouca ventura só nascesse da que também lhes faltou a eles por não nascerem ilustres. Verdade é que não são humildes que se devam envergonhar do seu estado, nem também tão altos que me tirem a cisma em que estou de ser a minha desgraça efeito da sua humildade. (...) porque a experiência me tinha ensinado ser a música uma suavizadora dos ânimos alterados e um alívio para os trabalhos de espírito. 
(...) se tão por miúdo a contei (a vida), não foi por ostentação, nem por alardo de riquezas, mas só para que reconheça quanto sem culpa caí daquele bom estado neste em que hoje me encontro.

REFERÊNCIA:

CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de la Mancha.Tradução: Conde de Azevedo e Visconde de Castilho. São Paulo: Martin Claret. Vol. I, 3ª ed. 2007, p. 265, 266, 272, 273, 305 e 309.

Pela Senhora Dulcinéia del Toboso, a Camélia e a Jardineira vivem muito mais que antes. São o que há de melhor.






sábado, 14 de setembro de 2013

NATURALLY



Se as mensagens que conhecemos e adoramos fossem aplicadas para que pudéssemos transformar nossas vidas, não teríamos que dos erros se arrepender. Mensagens maravilhosas que tocam o coração e que as desejamos a todos que amamos. Beleza que se perde no cotidiano diante da nova era que surge e que fascina. Enquanto bitolados no mundo virtual de obscenidade, mentiras, fantasias, entranhando-se cada vez mais nesse mundo alegre de emoções que nos fazem acreditar que somos mais felizes, perdemos nossas garantias de viver "os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa",  da cooperação entre os povos, da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem.  Mergulhamos no sonho de vida melhor, em que pessoas sem escrúpulos nos oferece com muita facilidade. Por isso, sem perceber, abrimos mão de Direitos sagrados e substanciais. A natureza é o melhor reflexo das condições primárias que todo ser humano necessita para sua sustentabilidade e sua degradação o melhor exemplo de nossa inércia. E o que fazemos diante das perdas? Nada, pois, os efeitos ainda não são vinculantes, mas individuais e raros. Verse sobre o que versar, o direito substancial é sua própria vida da qual não se pode dispor. Está chegando o momento em que teremos que decidir nossas vidas com harmonia, seja qual for a verdade. Sem saber que caminho seguir, ficaremos defronte a dúvida. O futuro brilhante estará em cada um de nós exercer atividades que devem convergir para o bem de todos. "Levante todos aqueles que estiverem caídos ao seu redor, você não sabe onde seus pés tropeçarão."